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sexta-feira, 18 de março de 2011

Cont. de O último verão

    Como o meu pai era sempre o que fazia amizade com todos, não pude fugir da idéia de que muito cedo ou tarde seríamos amigos dos nossos novos vizinhos com isso eu não aguentava imaginar que minha mãe logo estaria fazendo lanches que não eram para nós, mas para outros.
 Quando ele chegou em casa pela tarde, depois de passar o dia fora, eu sabia que tinha acontecido
   -Logo mais teremos visitas, disse o meu pai. 
 Isso bateu no meu peito como a dor do choque de água e eu retruquei:
   -Mas por que? Não estamos tão bem do jeito que estamos, pra que trazer mais pessoas?
   -Querida, precisamos conversar sobre Elizabeth, ela não está normal, o que está acontecendo?
   Minha mãe deu uma boa encarada em mim e de olhos alfinetantes também olhou para o meu pai, achou, tenho certeza, que ele estava louco e que essa minha posição era só uma besteira:
   -Marco, não acha que nossa filha está louca, acha? Lizza, você não tem motivos para não querer visitas aqui em casa, sempre fomos muito receptivos, já deveria estar acostumada.
   Eu não me lembrava realmente de alguma vez que eu teria reclamado que teríamos visitas e ao contrário, geralmente achava bom que minhas amigas fossem à minha casa, me lembro das vezes que eu chorava quando iam embora, acho que deveria saber que o resto do meu dia iria ser tedioso.
   Minha irmã apareceu gritando com um corte no dedo, mais uma vez ela tentava ajudar minha mãe na cozinha sem ter sido solicitada. Meu pai se desesperou e procurou usar as suas habilidades em primeiros socorros, pegou a sua maleta de madeira e tirou de lá dentro algum tipo de esparadrapo, coisas que se usam quando alguém se fere. Eu não tinha conhecimento sobre essas situações, preferia não ver, sempre fugi dos hospitais e das pessoas de branco, então aquela situação fez embrulhar o meu estômago porque ao que parecia o corte tinha sido feio.
   Logo a pequena Maria estava com o sangue estancado, fiz um carinho nela e fui fazer chá, gostava de ajudar as pessoas quando se feriam, não sei muito bem o que fazer até hoje, já tentei algum curso rápido de primeiros socorros, mas a falta de tempo não me deixa fazer nada de útil, me acostumei às notícias rotineiras falando sobre maquiagem, tendências de sapatos, esmaltes... er! tenho a impressão de que me torno fútil a cada reportagem que faço para a FolhetimModa&Beleza. Assim, mesmo não sabendo se o chá sairia no ponto ideal, fiz para alegrar a minha irmã. Passamos o resto da tarde juntos, cada qual fazendo algo, minha mãe foi arrumar a casa, eu fui ajudá-la e meu pai foi pescar, acho que imaginava que a janta para os convidados seria peixe.